Investigação comercial dos EUA mira Brasil por alinhamento com BRICS, redes sociais e tarifas — e pode custar caro
Trump e Bolsonaro miram em Lula e acertam no Pix

EUA abrem investigação contra o Brasil — entenda o que está em jogo
A relação entre Brasil e Estados Unidos pode enfrentar uma nova turbulência. O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), sob instrução direta do ex-presidente Donald Trump, abriu uma investigação formal contra o Brasil, citando uma série de práticas consideradas desleais no comércio, censura digital e alinhamentos geopolíticos que incomodam Washington.
O processo se apoia na chamada seção 301, uma ferramenta legal da legislação americana que autoriza retaliações comerciais contra países cujas ações prejudiquem interesses norte-americanos. A mesma foi usada contra a China em 2018, gerando tarifas sobre mais de 370 bilhões de dólares em produtos — e agora, pode mirar o Brasil.
Segundo o comunicado do USTR, a investigação examinará se o Brasil:
- Prejudica empresas de tecnologia e redes sociais dos EUA por não aceitar conteúdos políticos e impor restrições;
- Concede tarifas injustas a outros países, dificultando a competitividade americana;
- Falha na aplicação de medidas anticorrupção e de transparência;
- Não protege adequadamente a propriedade intelectual de empresas americanas;
- Restringe o etanol americano com tarifas altas;
- Permite desmatamento ilegal, afetando produtores de madeira e grãos dos EUA.
O ataque também tem forte cunho político: Trump usou a retórica de “defesa da liberdade de expressão” para justificar as ações contra o Brasil, citando diretamente a derrubada do X (antigo Twitter) por ordens do STF em 2023. O ex-presidente americano ainda mencionou a suposta “perseguição política” contra Jair Bolsonaro, acenando à sua base conservadora e reforçando o elo com o ex-presidente brasileiro.
Pix, Lula e os BRICS no centro da tensão
Apesar de as motivações declaradas envolverem tarifas e propriedade intelectual, fontes próximas ao Departamento de Comércio dos EUA apontam que o real incômodo seria o alinhamento do Brasil aos BRICS, grupo de países emergentes que fortaleceu alternativas ao dólar — incluindo o Pix como tecnologia aberta e independente, cada vez mais copiada por outros países.
A ofensiva americana ocorre justamente em um momento de expansão do soft power brasileiro, com Lula intensificando parcerias comerciais com China, Rússia e Índia. Ao investigar o país, os EUA tentam conter esse movimento — e, de quebra, marcar posição contra uma política digital mais autônoma e menos dependente de empresas como Meta e Google.
Impacto direto na economia brasileira
Segundo especialistas, a abertura de uma investigação com base na seção 301 pode causar danos reais e duradouros à economia brasileira. Sanções derivadas dessa lei são de difícil reversão e resistem por anos — como ocorreu no caso chinês.
“Mesmo que motivadas por razões políticas, as sanções comerciais baseadas nessa seção já foram confirmadas pela Justiça americana. Isso torna tudo mais difícil para o Brasil contestar”, afirma Barbara Medrado, especialista em comércio internacional.
Além disso, o Brasil já aparece em relatórios anteriores do USTR por questões como pirataria, falsificação e barreiras comerciais, o que serve como base para justificar a nova ofensiva.
Riscos e próximos passos
- A investigação tem prazo inicial de até 12 meses;
- O Brasil poderá ser chamado para se defender, mas poucas sanções são revertidas;
- O movimento pode abrir precedente para novas barreiras tarifárias;
- Setores como agronegócio, tecnologia e etanol podem ser fortemente impactados.
Enquanto a diplomacia brasileira ainda avalia a resposta oficial, o gesto de Trump é visto como um ataque preventivo ao projeto político de Lula e uma tentativa de proteger interesses de aliados, inclusive Bolsonaro, em plena corrida eleitoral norte-americana.
Onde queremos chegar:
Com a retaliação comercial na mesa, o Brasil volta a ser campo de batalha na geopolítica global. Se antes era o petróleo, agora o embate é digital: redes sociais, dados, Pix e protagonismo no Sul Global. E no centro, uma velha disputa — quem manda no futuro do comércio, da democracia e da informação?