Sobra esforço, mas falta cérebro à Seleção

POR GERSON NOGUEIRA

A nova Seleção Brasileira teve três dias de treinos. Mal houve tempo para Carlo Ancelotti aprender os nomes de todos os jogadores. Dar sentido e ordenação tática ao time é tarefa que requer mais vivência e preparação. Isso se refletiu na atuação contra o Equador, segundo melhor time das Eliminatórias Sul-Americanas. Nesse sentido, o empate foi um bom negócio. Um jogador se destacou positivamente: Alex, firme na zaga central, e até ajudando no encaminhamento de jogadas para o meio.

De maneira geral, o setor de defesa atuou bem. O problema todo está no ataque, que praticamente não existe com as peças atuais. Vinícius Jr. e Estêvão produziram pouco, embora sempre esforçados. Richarlyson é caso perdido. Atrapalhado e sem confiança, deixou de ser o centroavante apenas razoável que já foi um dia.

Casemiro, Gerson e Bruno Guimarães formam o meio-de-campo. A boa notícia é a volta de Casemiro, o xerife que faltava à Seleção desde que ele deixou de ser convocado. Foi confuso em algumas saídas, mas funcionou bem no embate direto com os atacantes equatorianos. A má notícia é que continua faltando vida inteligente à Seleção. Não há um pensador; nenhum dos três homens de meio têm essa característica, o que cria um tremendo abacaxi para Ancelotti.

A ilusão de alguns com o papel de Gerson na meia-cancha morre a cada partida. Nem mesmo no Flamengo, onde é peça de destaque, o volante consegue descolar bons passes ou abrir caminho com dribles e imposição. Não é a dele. Será preciso descobrir (ou inventar) um organizador habilidoso e criativo, espécie extinta no Brasil de hoje.

Uma boa sacada do italiano foi adiantar a linha de zagueiros até quase o limite de meio-campo, dificultando a movimentação do adversário, cujo ponto alto é justamente o setor de armação. Adiantar a fronteira defensiva conteve as ações velozes puxadas por Alan Franco e Caicedo.

Como as jogadas eram iniciadas pelos volantes, o ataque viveu de espasmos, como ocorre há muitas luas. Não se vê um passe qualificado no time desde que Ronaldinho Gaúcho e Kaká passaram por lá. Lembrar grandes nomes do passado funciona para saudosistas, mas não resolve o problema. Ancelotti logo vai se dar conta disso e é possível que escolha Raphinha para a tarefa de conduzir o time a partir da faixa central, como ele faz no Barcelona.

Suspenso, Raphinha não jogou contra o Equador. Um desfalque e tanto. O meia-atacante vive seu melhor momento, citado para o prêmio The Best, da Fifa. Rivaliza com Lamine Yamal e Lewandowski em grau de importância para o Barcelona. Pode ser o articulador que a Seleção tanto busca há tempos. Com Dorival não tinha como dar certo, mas com um bom técnico a orientá-lo, há chance de que funcione na Copa, daqui a um ano. Rodrygo é outra alternativa, embora seja menos letal nas finalizações.

Como resultado, a estreia de Ancelotti foi satisfatória. Não podia fazer mais do que fez. Problema mesmo é a comparação com o jogaço que rolou à tarde, pela Liga das Nações. Espanha 5, França 4. Craques em profusão (Lamine, Mbappé, Dembelé, Nico Williams, Pedri), lances luminosos, futebol-espetáculo por excelência. Um outro esporte.

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