Somos a geração que rebobinou fitas com caneta e hoje pede para IA escrever música.
Do VHS ao ChatGPT – Como a Tecnologia Evoluiu Desde os Tempos do Disquete

Se você já soprou um cartucho de videogame para ele funcionar, rebobinou uma fita VHS com a ajuda de uma caneta Bic ou salvou trabalhos da escola em um disquete de 1,44 MB, então você viveu uma era mágica — e analógica — da tecnologia.
Os anos 90 foram marcados por descobertas, sons eletrônicos inconfundíveis e uma relação quase física com os aparelhos. Era o tempo em que a internet fazia barulho ao conectar, em que celulares eram “tijolões” e a informação vinha da enciclopédia Barsa.
Hoje, tudo isso parece distante. Vivemos em um mundo onde falamos com assistentes virtuais, acessamos conteúdos em segundos e usamos inteligência artificial para responder perguntas, criar imagens e até escrever textos como este.
Embarque conosco nessa viagem no tempo para comparar o que foi — e o que é hoje — a tecnologia no nosso dia a dia.
Do disquete à nuvem
Guardar um trabalho da escola ou aquele jogo de computador em um disquete era quase um ritual. A gente precisava conferir o tamanho do arquivo, rezar para caber nos míseros 1,44 megabytes — e ainda torcer para que o disquete não estivesse corrompido. Ter vários disquetes numerados com etiqueta escrita à mão era comum: um para a apresentação, outro para as imagens, e talvez mais um só para garantir.
Quem viveu essa época vai lembrar também de comprar livros e revistas que vinham com CD-ROMs recheados de jogos, demos e enciclopédias interativas. A Planeta DeAgostini vendia coleções como o “Atlas do Corpo Humano”, que nos ensinava anatomia em animações que hoje pareceriam simples, mas que na época nos deixavam boquiabertos.
Nas bancas, a Revista PlayStation, a CD Expert, a Super Game Power e tantas outras faziam sucesso com edições especiais recheadas de CDs. Algumas vinham com jogos inteiros, outras com demos ou coleções de emuladores. Os encartes tinham listas de códigos secretos, macetes e truques que viravam febre nas rodas de amigos: vida infinita, liberar personagens ocultos, destravar fases secretas — e claro, o mítico código da Konami.
Com o lançamento do PlayStation 2, entramos numa nova era dos videogames. Os discos Jampack traziam demos jogáveis de títulos que ainda seriam lançados, permitindo que a gente testasse o futuro com as próprias mãos. O console trazia suporte a vídeo componente, o que já indicava um salto de qualidade visual em relação ao AV tradicional. E como esquecer do lendário disco do Netflix para PS2? Um DVD especial que, em alguns países, permitia acessar o serviço de streaming — muito antes dos aplicativos, e em uma época em que “assistir filmes pela internet” parecia ficção.
A internet, quando dava sinal, era via discador IG, BOL ou Terra, com aquele barulho inesquecível da conexão telefônica. E cuidado: se alguém atendesse o telefone durante a navegação, a conexão caía. A gente navegava devagar, usava o ICQ ou o mIRC, e esperava minutos para carregar uma imagem. Os HDs? Tinham poucos megabytes ou, se fosse um “micro bom”, uns 4 ou 8 gigas — que se enchiam rápido com músicas em MP3 ou jogos piratas baixados no eMule.
Os telefones da época também tinham seu charme: alguns “dançavam” quando tocavam, com luzes piscando e som monofônico. Era comum deixar o telefone em pé só para exibir esse espetáculo. E os videogames? Jogávamos Super Nintendo ou Mega Drive na TV de tubo, sintonizando no canal 3, às vezes precisando soprar o cartucho para funcionar.
Para trocar arquivos entre celulares, usávamos infravermelho — encostando os aparelhos como se fosse um ritual de sincronia. Depois veio o Bluetooth, que parecia mágico, mas demorava eternidades para passar uma música de 3 MB.
Tudo era limitado, trabalhoso e, ao mesmo tempo, absolutamente mágico. Uma era em que cada conquista digital vinha com esforço e descoberta.
Hoje, vivemos em um mundo onde quase tudo acontece de forma instantânea e invisível. Os arquivos que antes exigiam atenção, espaço físico e cuidado agora são armazenados em nuvens digitais, acessíveis de qualquer lugar do planeta com alguns toques. Serviços como Google Drive, iCloud e Dropbox oferecem gigabytes — ou até terabytes — de espaço remoto, com backup automático, sincronização entre dispositivos e criptografia que garante mais segurança do que qualquer armário trancado.
Os CDs e DVDs deram lugar a pendrives, cartões SD e SSDs, que armazenam dezenas ou centenas de gigabytes em dispositivos do tamanho de um polegar. O que antes levava minutos para copiar, agora leva segundos.
As revistas com CDs de demonstração perderam espaço para plataformas como Steam, PlayStation Store, Xbox Live e Epic Games, onde os demos, trailers e versões beta podem ser baixados gratuitamente.
O que era feito em vídeo componente, hoje é transmitido via HDMI 2.1, com suporte a 4K, 8K e áudio imersivo. E aquela ideia futurista de assistir filmes pela internet, que começou engatinhando no PS2, virou realidade consolidada com plataformas como Netflix, Amazon Prime, Disney+, YouTube e tantos outros.
A internet discada virou história. Em seu lugar temos conexões de fibra óptica e 5G, com velocidades que tornam possível baixar jogos de dezenas de GB em minutos.
Os celulares com infravermelho e toques monofônicos foram substituídos por smartphones multifuncionais, que tiram fotos em altíssima resolução, filmam em 4K e transferem arquivos por Bluetooth de alta velocidade, Wi-Fi Direct e até NFC.
Até os truques e códigos secretos foram transformados. Em vez de procurar uma revista com as combinações, os jogadores recorrem a tutoriais no YouTube ou inteligência artificial. O conhecimento antes restrito está agora ao alcance de todos, o tempo todo.
A evolução tecnológica não apenas tornou tudo mais rápido, leve e integrado — ela transformou a nossa relação com os dispositivos. Do peso físico e esforço manual, passamos para a fluidez e automação.
Do vhs ao streaming
Antes do botão “assistir agora”, existia um ritual quase sagrado: ir até a locadora, escolher a capa mais chamativa, torcer para a fita não estar rebobinada no final e lembrar de devolver até segunda-feira para não pagar multa. O VHS foi rei por anos. A fita magnética, apesar de frágil, era a janela para aventuras, risadas e sustos no conforto de casa — com aquela imagem granulada e o som abafado que, para a época, parecia o ápice da tecnologia.
Quem tinha um videocassete com controle remoto com fio ou função auto-reverse era rei do pedaço. As fitas ficavam empilhadas em estantes, com etiquetas escritas à mão: “Filme do Rambo”, “Chaves Especial”, “Cavaleiros do Zodíaco Gravado da TV Manchete”.
Hoje, o que antes era físico é digital. Netflix, Prime Video, Disney+, Globoplay, YouTube e tantas outras plataformas transformaram a forma como assistimos a conteúdos. Basta clicar — e o vídeo começa. Sem precisar sair de casa, sem medo de multas, sem rebobinar.
A qualidade também evoluiu: saímos da imagem em 240p para resoluções 4K e 8K, com som surround, legendas automáticas e até áudio em múltiplos idiomas. O conteúdo agora é personalizado, os algoritmos sabem o que você gosta e criam listas automáticas.
Com celulares, tablets, smart TVs e até relógios conectados, levamos o cinema no bolso. Se antes era preciso aguardar o programa passar na TV aberta, agora o conteúdo está disponível on demand. Plataformas lembram onde você parou, oferecem episódios em sequência e até permitem baixar conteúdos para assistir offline — algo impensável nos anos 90.
Da enciclopédia Barsa ao Chatgpt
Fazer um trabalho da escola nos anos 90 era quase uma expedição. Abríamos a Enciclopédia Barsa, aquele conjunto pesado de volumes com lombadas douradas, folheando páginas, anotando trechos à mão. Quem não tinha enciclopédia em casa ia à biblioteca pública ou escolar. O máximo de digital era o CD-ROM do Encarta.
Hoje, perguntas são respondidas em segundos. Basta digitar no Google ou perguntar ao ChatGPT. A IA responde, explica, escreve, resume e traduz. Plataformas como Wikipedia, YouTube, Khan Academy e Coursera oferecem aulas completas. O conhecimento virou diálogo. E o que antes era esforço solitário, hoje é acessível, automatizado e colaborativo.
Do super Nintendo ao metaverso
Super Nintendo, Mega Drive, Master System… soprar o cartucho, ajustar o canal 3 da TV, torcer para carregar. Jogar era mágico, mas limitado: dois botões, controle com fio, sem salvar progresso. Multiplayer? Só com o amigo do lado.
Hoje, o cartucho virou download digital. Jogamos em 4K com HDR, online com o mundo inteiro. Plataformas como Steam, PS Store, Game Pass oferecem bibliotecas infinitas. O metaverso começa a tomar forma com jogos como Fortnite e Roblox. Com realidade virtual, sensores de movimento e inteligência artificial, o jogador vive a experiência. Do sofá à imersão total.
Uma geração que viveu duas eras
Vivemos um tempo único: somos a geração que rebobinou fitas com caneta e hoje pede para uma IA escrever uma música. Testemunhamos a transição do analógico para o digital, do tátil para o instantâneo.
Cada clique de disquete, cada barulho da conexão discada, cada jogo de cartucho soprado fazia parte de um mundo onde a tecnologia era descoberta com paciência. Hoje, vivemos na era da velocidade, da nuvem, do streaming e da IA.
Olhar para trás nos ajuda a entender o quanto avançamos — e o quanto o futuro ainda promete. O que hoje parece o topo da tecnologia, amanhã será lembrado com o mesmo carinho com que lembramos do canal 3, do ringtone monofônico e do CD da revista.
Em um mundo onde tudo muda tão rápido, guardar a memória do que fomos também é um ato de resistência e afeto. Afinal, só quem viveu as duas eras entende o verdadeiro peso de salvar um arquivo… e o valor de poder apagá-lo com um toque.
Lucas Miranda – Designer, Gestor de IA, Desenvolvedor metaverso e Pro-player nas horas vagas.