Neste 13 de maio, dia em que se lembra a abolição da escravidão negra no Brasil – data em que a Lei Áurea foi assinada, em 1888, há, portanto, 137 anos -, a Prefeitura de Belém reafirma o seu compromisso com a construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e com oportunidades para todos, independente de raça ou origem étnica. Nesse sentido, a gestão municipal destaca o trabalho desenvolvido pela Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Santana do Aurá, ligada à Secretaria Municipal de Educação de Belém (Semec) e localizada no bairro de Águas Lindas. Como fruto de um projeto que desenvolve a educação antirracista, a unidade, que atende mais de 200 alunos do Jardim I ao 5 ano do ensino fundamental, foi contemplada, no ano passado, com o selo “Zélia Amador de Deus”, entregue pelo Conselho Municipal de Educação de Belém. Segundo a entidade, o reconhecimento é dado para instituições de educação básica que desenvolvem e implementam ações pedagógicas e de gestão que tenham como foco a promoção da educação para as relações étnico-raciais e igualdade racial.

De acordo com a gestora da escola, Carine Coelho, esse trabalho teve ínicio em 2021, durante as atividades dos alunos na biblioteca, quando eles começaram a ser instigados a consumir mais literatura voltada à temática negra. A professora era Quelem Kallfman, que agora atua como coordenadora pedagógica. Ela e a gestora Carine abraçaram e começaram a expandir o projeto, fazendo-o chegar a todos os professores, servidores e famílias. “Em 2023, conseguimos de fato mobilizar não só uma pequena parcela da escola, mas os professores como um todo, pais, estudantes e servidores da escola e, além das atividades de sala de aula, conseguimos trazer formação para os servidores, pois todos nós somos profissionais da educação e combater o racismo é fundamental”, lembrou Carine.
Segundo Quelem, logo no início do projeto, a temática da cultura africana e afro-brasileira foi trabalhada a partir de obras literárias, depois isso foi se ampliando para o conhecimento sobre os 54 países que compõem o continente africano, as brincadeiras, músicas e outros elementos importantes de identificação dessas populações. “Isso foi fundamental para que eles conhecessem melhor a cultura afro-brasileira e africana e, principalmente, para a própria valorização deles enquanto pessoas pretas e pardas. Até 2023, quase ninguém aqui se identificava como preto ou pardo e, já no ano passado, muita gente se identificou, o que mostra uma mudança de postura, que nós creditamos a esse trabalho”, explicou.

Em 2024, o trabalho se consolidou ainda mais, com a culminância no final do ano e apresentações de todas as turmas e convidados especiais, como como a professora da rede pública estadual Lília Melo, vencedora do Prêmio Professores do Brasil, um dos mais importantes do país. “As crianças reconheceram ela, porque já tinham pesquisado sobre algumas pessoas junto com as famílias. Isso foi muito legal”, frisou Carine. Foi também no final do ano passado que a escola obteve o selo “Zélia Amador de Deus”, entregue pelo Conselho Municipal de Educação de Belém.

Para a professora Adelaide Gomes, a ideia é mudar a perspectiva sobre a contribuição da população negra para a nossa sociedade e, ao mesmo tempo, usar as potencialidades de quem mora ali naquela região, marcada pela existência do lixão do Aurá. “Trabalhamos esses conteúdos em todas as disciplinas, na língua portuguesa, matemática, ciências, história, geografia, fizemos brincadeiras de origem africana, sem custo nenhum, usando materiais recicláveis, que muitas vezes as crianças têm acesso pela proximidade com o aterro. Construímos jogos, instrumentos musicais de origem africana, bonecas, com pedrinhas, cordas, tampinhas de garrafa. Também falamos muito sobre respeito à religiosidade de cada um, sem dúvida, foi um projeto muito inclusivo, de várias maneiras”, completou.

Neste ano, a escola está trabalhando com a temática dos povos originários, mais especificamente voltada para a cultura indígena e os alunos estão empolgados. É o caso da pequena Ester Raiane, aluna do segundo ano do ensino fundamental. “Tudo o que eu aprendi foi muito legal, gosto muito dessa escola”, resumiu.

Por conta do reconhecimento do Conselho Municipal de Educação, a escola recebeu um diploma e uma chancela adesiva cunhada com a efígie da homenageada, Zélia Amador de Deus, professora da Universidade Federal do Pará, ícone da luta contra o racismo e identificada como promotora da igualdade racial em nível estadual e nacional.

Fonte: Agência Belém
Texto: Elck Oliveira