Alunos produzem curta-metragens para combater violência escolar

Projeto desenvolvido na Escola Municipal Honorato Filgueiras conscientiza sobre bullying por meio da produção audiovisual. Os alunos foram os roteiristas, diretores, atores e editores de cinco curtas.

Em 2023 foram registradas 13.117 vítimas de violência interpessoal nas escolas em todo o Brasil, segundo dados do 1º Boletim Técnico Escola que Protege, lançado pelo Ministério da Educação em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número, no entanto, pode ser maior, pois muitos estudantes não denunciam o bullying sofrido.

Para enfrentar essa realidade, a Escola Municipal Honorato Filgueiras, localizada no bairro do Jurunas, desenvolveu a atividade pedagógica “Curtas contra o bullying”, uma série de curta-metragens produzidos pelos alunos com o objetivo de conscientizar sobre a violência nas escolas.

A idealizadora e coordenadora da iniciativa, professora Wilma Falcão, explica que a proposta surgiu após o aparecimento de casos de bullying na unidade de ensino. “A gente percebeu que ainda havia algumas intimidações em relação às diferenças na escola. Vimos que o projeto era uma forma de prevenir e de fazer com que quem está sofrendo bullying não se cale”, explica a professora.

Ela conta que foram realizadas outras atividades, como jogo de perguntas e respostas e elaboração de cartas contra o bullying, mas que o envolvimento dos alunos foi maior na produção dos vídeos. “Os alunos amam filmar, estar nas redes socais. E como eles não podem usar celular na escola, a gente resolveu abrir uma exceção para trabalharmos a prevenção através de algo que eles gostam. Em dois dias eles filmaram e editaram. Eles se sentiram parte da escola”, destaca a professora.

Na tela, cenas de histórias reais

Foram produzidos cinco vídeos, nos quais os alunos eram os roteiristas, diretores, atores e editores. Nas imagens, foram reproduzidas cenas inspiradas em histórias reais que os alunos viram, viveram ou ouviram falar.

“Eu já sofri e já tive amigas que já sofreram bullying. Eu sofri quando tinha 9 anos, pela minha aparência, por causa do meu cabelo, e com as minhas amigas foi mais com apelidos”, lembra Rosana Christina Serra, de 13 anos, aluna do 6º ano, que foi roteirista e atuou em um dos curtas.

Segundo o Boletim Técnico Escola que Protege, a maior parte dos casos de violência ocorridos no ambiente escolar foi de violência física (50%), seguido de violência psicológica/moral (23,8%) e violência sexual (23,1%). Em 35,9% dos casos o agressor era um amigo ou conhecido da vítima.

Maria Rita Teixeira, de 11 anos, também estudante do 6º ano, conta que uma amiga passou por humilhações na escola. “Eu tenho uma amiga que já sofreu bullying, uma menina que ficavam toda hora apelidando”, relembra.

Produção audiovisual

projeto e os curtas também buscaram conscientizar sobre diferentes tipos de bullying: por aparência, por apelido, cyberbullying e trataram também sobre as consequências emocionais desse tipo de violência.

Após a produção e edição dos vídeos, a escola realizou um momento para reunir todos os estudantes do turno da tarde, para exibir as produções e premiar os melhores vídeos nas categorias “Melhor atuação”, “Melhor curta”, “Melhor edição”, “Melhor direção de vídeo” e “Melhor mensagem”

Agora os vídeos serão exibidos na reunião de pais e responsáveis, para propagar a conscientização sobre o tema. “A gente quer mostrar às famílias que é importante estar de olho nas ações dos filhos”, afirma Wilma Falcão.

Escola como espaço de escuta e de fala

A professora Wilma conta que também foi colocada uma caixa para recebimento de denúncias de casos de bullying na escola, e que isso foi um saldo positivo do projeto. “Recebemos muitas cartas de denúncia. É importante não se calar. Foi muito bom porque a gente percebeu que a escola passa por isso e muitas vezes a gente fecha os olhos ou não vê”, afirma a professora.

A estudante Rosana conta que, para ela, a principal lição deixada pelo projeto é a importância de denunciar. “Aprendi que temos que falar com pessoas responsáveis, que elas vão nos ajudar a combater isso”, comenta.

Kenzo de Oliveira, de 16 anos, aluno do 9º ano, reforça a necessidade de debater esse tema para que não afete as novas gerações: “A escola é uma preparação para a vida. A escola serve para melhorar cada dia mais e mais o ser humano. Eu acredito na escola. É um lugar para a gente aprender, se comunicar, se desenvolver e é importante a gente falar sobre o bullying para que isso não venha a acontecer no futuro”.

Texto: Élida Cristo Miranda
Fonte: Agência Belém

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