Um dia após acordo de paz no Egito, Israel mata grupo de palestinos em Gaza

ONU diz que reconstrução da região pode levar décadas e custará U$$ 70 milhões

Um dia após formalizar um acordo de paz mediado pelos Estados Unidos, Israel voltou a atacar a Faixa de Gaza. O Exército israelense afirmou nesta terça-feira (14) ter aberto fogo contra um grupo de palestinos que teria se aproximado de suas forças no norte do território. Autoridades de saúde locais, ligadas ao Hamas, confirmaram que pelo menos seis pessoas foram mortas em dois incidentes distintos.

Segundo Israel, “vários suspeitos” teriam cruzado um limite estabelecido para a retirada inicial de tropas israelenses, violando os termos do cessar-fogo. Em comunicado, o Exército declarou que os palestinos “se recusaram a obedecer ordens para se afastar”, o que teria levado os militares a “eliminar a ameaça”. O texto, publicado no X, pede que a população “siga as instruções e mantenha distância das tropas israelenses”.

O ataque ocorre apenas um dia após a libertação dos 20 reféns sobreviventes que permaneciam sob poder do Hamas e a devolução de cerca de 2 mil prisioneiros palestinos detidos por Israel. A ação israelense dá lugar à incerteza sobre a durabilidade da trégua, que está prevista em um acordo frágil, que tem diversos pontos nebulosos.

Na última segunda-feira (13), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou com representantes do Egito, Qatar e Turquia um novo acordo de cessar-fogo, oficializando a trégua iniciada na última sexta-feira (10). Mas, apesar da conferência internacional no Egito, pontos cruciais permanecem sem definição, como a retirada das tropas de Israel de dentro da Faixa de Gaza, o plano de reconstrução da região e a composição do governo tecnocrático que deve assumir o controle do território.

Destruição e reconstrução

A ONU estima que reconstruir Gaza levará “décadas” e custará ao menos US$ 70 bilhões. Em coletiva em Genebra, o chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em Jerusalém, Jaco Cilliers, afirmou que será preciso remover cerca de 55 milhões de toneladas de escombros — “o equivalente a 13 pirâmides do Egito”, comparou.

Segundo a entidade, 84% dos prédios do território estão destruídos ou gravemente danificados; na Cidade de Gaza, o índice chega a 92%. A ONU calcula que, nos próximos três anos, serão necessários US$ 20 bilhões apenas para reconstruções iniciais, priorizando infraestrutura básica, saneamento e abastecimento de água.

Em março, o custo total estimado era de US$ 53 bilhões, mas os números foram revistos para cima diante da ampliação dos danos. O desafio inclui ainda a criação de um sistema de microcrédito para reerguer o setor privado, já que 88% das empresas locais foram parcial ou totalmente destruídas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alertou para a crise sanitária. Após meses sem acesso aos hospitais, a entidade calcula que 15 mil pacientes precisam ser evacuados de Gaza para receber tratamento fora do território. Hoje, 42 mil palestinos vivem com sequelas físicas permanentes, 10 mil são crianças e 5 mil delas passaram por amputações nos últimos dois anos.

Durante a remoção de escombros, corpos começaram a ser encontrados, inclusive em uma mesquita. A ONU reconhece que o número oficial de 67 mil mortos pode subir consideravelmente nas próximas semanas. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha destacou ainda o risco de contaminação por explosivos não detonados e a necessidade de lidar com restos mortais de palestinos.

Em meio à destruição, a ONU insiste que o esforço de reconstrução deve ser global, envolvendo governos da Europa, do Oriente Médio e dos Estados Unidos. “O processo será longo”, disse Cilliers. “Mas reconstruir Gaza é uma questão de humanidade.”

Fonte: Brasil De Fato / Editado por: Nathallia Fonseca

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