Feira da Praça: 18 anos de livros, memória e resistência cultural

Domingos, 8h–14h, independência livreira e raridades paraenses na Praça da República. Patrimônio vivo que mantém o acesso à leitura, a preços populares, no coração de Belém.

No coração de Belém, a Feira Alternativa do Livro celebra 18 anos fazendo o que sempre fez de melhor: aproximar pessoas dos livros — e os livros das pessoas. Todos os domingos, das 8h às 14h, livreiros independentes transformam a Praça da República em um circuito vivo de leitura, memória e encontro entre gerações.

Anderson Melo da Conceição.

A feira é independente… é trabalho e também militância cultural.

A frase de Andersson Melo da Conceição (Instagram), ativista social e um dos responsáveis pela organização, ajuda a explicar por que o evento atravessou décadas. Segundo ele, a feira reúne desde sebos com ponto fixo até livreiros itinerantes, que atuam em rede para vender, comprar, trocar e receber doações de livros.

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Por que sebos importam: acesso, preço e memória. Em um país onde o livro ainda pesa no orçamento, os sebos democratizam o acesso à leitura. Títulos que custam R$ 40 a R$ 100 no circuito comercial frequentemente aparecem ali por R$ 10 a R$ 20. Mais que preço, há curadoria de memória: muitos exemplares raros de história de Belém e do Pará reaparecem nas bancas, reabrindo caminhos para pesquisadores e leitores curiosos.

Praça da República: um domingo de ideias em circulação. A feira é plural. Além de livros novos e usados, circulam vinis, CDs e outros itens culturais. O resultado é um ambiente de conversa, achados e descoberta — um laboratório de leitura a céu aberto.

POESIA — Renato Torres (exclusiva para o Diário do Norte):

“Teu desejo diário era que o tecido vário da realidade pudesse ser traduzido em sentidos outros, multitudinários, e que a cada olhar se desse o caldo abundante ou precário de tal colheita, convidando a atenção afeita às velocidades ao fluxo natural das veleidades cotidianas: a folha que cai, o prana dos cães, a fresta orvalhada do sol nas árvores, o ar disposto a multidão das praças matinais.”

Do restauro ao afeto: o ofício do livreiro. Para Andersson, o sebo é mais que comércio: é um lugar de resguardo do livro. “Nos sebos o livro é cuidado e recuperado: a gente limpa, conserta, apaga ou preserva anotações, devolve o exemplar à vida”, diz. Esse cuidado cria laços com leitores, histórias e dedicatórias que atravessam gerações.

Das apreensões ao reconhecimento. O caminho até aqui foi de luta e resistência, relata Andersson. No início, faltava compreensão sobre o papel social dos livreiros e houve apreensões de materiais. Com mobilização, luta e diálogo, veio o reconhecimento — inclusive com participação em programações maiores. Ainda assim, paira a preocupação com políticas que afetem o uso das praças, lembrando que o espaço público é essencial para a feira.

Política pública já: editais, menos burocracia e assento à mesa. O movimento defende a inclusão de sebos e livreiros em editais e programações culturais, com regras compatíveis com a realidade do setor. Também pede assento nas discussões sobre livro e leitura junto a órgãos, instituições e organizações — para que as políticas nasçam de quem está na ponta, promovendo acesso principalmente para quem vive em vulnerabilidade socioeconômica.

Voz do público: pertencimento que volta pra casa. Belém que lê também é Belém que volta. A belenense Fernanda, que mora fora há 19 anos, define a experiência como “um acalento”: “É gratificante ver a praça cheia e a nossa diversidade em livros. Trouxe minhas filhas para escolherem títulos e encontrei obras sobre a história de Belém. A feira está viva e dá orgulho.”

Entre os convidados e apoiadores, nomes como o escritor Alfredo Garcia reforçam a ponte com escolas, bibliotecas e formação de leitores — um ecossistema que os sebos e a feira ajudam a sustentar.

SERVIÇO
Feira Alternativa do Livro — todo domingo, 8h–14h
Local: Praça da República, Belém-PA

Ler é resistir.

Por Lucas Miranda — Diário do Norte.

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