Gleice e Alfredo Garcia destacam a força das “multivozes” na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro

Na edição 2025 da Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, o casal de escritores Gleice Corrêa Garcia e Alfredo Guimarães Garcia fala ao Diário do Norte sobre o encontro direto entre autor e leitor, a cena literária paraense e o lançamento de “O Sabor do Afeto: Gastrocrônicas”, de Gleice. Em 40 anos de trajetória, Alfredo ressalta persistência e rede de relações como pilares da carreira. “Por trás de toda livraria e autor existe um apaixonado por livros”, resume.

O encontro que sustenta a leitura

Para Gleice, participar da 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes é valioso “pela comunicação com o leitor — essa aproximação corpo a corpo” e porque, nesta edição, ela se sente ainda “mais escritora”, apoiada por uma base crescente de leitores que aguardam novidades. Aos jovens autores, a mensagem é direta: insistir, persistir, ler, praticar. Sobre uma futura homenagem da feira, ela escolheria o próprio marido, Alfredo Guimarães Garcia, pelos 40 anos de história literária.

Casados há 38 anos, Gleice e Alfredo dizem que não existe fórmula universal para longevidade afetiva, mas que a deles se sustenta em respeito ao espaço do outro e separação clara entre o pessoal e o profissional. “Há sete anos publico pela Populivros e, mesmo assim, sou tratada como profissional; admiro o escritor, o editor e o ser humano”, afirma Gleice.

40 anos de literatura: persistência e redes

Ao olhar para a própria trajetória, Alfredo reforça dois fundamentos para quem começa: persistência e construção de uma rede de relacionamentos — com escolas, editoras e público — para sustentar a caminhada criativa. Seu primeiro livro, o infantil “Quem viu meu soninho”, completa 30 anos em 2025 e abriu caminho para mais de 65 obras ao longo de quatro décadas.

Entre as influências, ele cita Machado de Assis e Monteiro Lobato, além de um repertório marcado por autores russos. Nos contemporâneos, destaca Antonio Juraci Siqueira e o amigo já falecido Rufino Almeida.
“Há um momento em que a escrita deixa de ser só hobby e vira uma vivência profissional”, diz. Ao mesmo tempo, pondera: “A literatura sustenta poucos — como no futebol, 1% vive dela; os demais convivem e sobrevivem.”

Literatura que também tem sabor

Professora de Língua Portuguesa aposentada e hoje docente de Gastronomia da UEPA, Gleice estreia na literatura há dez anos com “Miguxas e Outras Crônicas”, livro premiado pela Academia Paraense de Letras em 2015. Agora lança “O Sabor do Afeto: Gastrocrônicas” (Populivros), obra que combina crônicas, receitas do cotidiano (como o premiado bolinho Mano da Birita) e fotografias autorais. A proposta é unir memória e comida: “A memória vem com cheiro, cor e um prato que nos devolve pessoas e momentos”, explica Gleice, citando exemplos da literatura de Jorge Amado como inspiração para esse diálogo entre narrativa e gastronomia.

Recomendações e o espírito da feira

Alfredo convida o público a entrar, descobrir autores e livrarias da região e a participar ativamente da feira. Para ele, o evento é a celebração do encontro autor-leitor e da troca de experiências entre autores locais e nacionais. Em uma frase que resume o ambiente que move o setor, ele lembra: “Por trás de toda livraria e autor existe um apaixonado por livros.”

A feira em 2025

A 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes acontece de 16 a 22 de agosto de 2025, no Hangar – Centro de Convenções da Amazônia (Belém), com entrada gratuita e programação diária das 9h às 22h. O evento homenageia o músico marajoara Mestre Damasceno e a poeta Wanda Monteiro, reunindo mais de 100 escritores paraenses e cerca de 70 convidados nacionais. Com o conceito de “multivozes”, reafirma a diversidade cultural amazônica e a oralidade como eixos centrais.

Criada em 1996, a feira se consolidou como o maior evento literário do Norte e um dos quatro maiores do Brasil. Desde 2008, acontece no Hangar, com mais de 10 mil m² de área climatizada e múltiplos espaços. Desde 2019, adota oficialmente o formato “…e das Multivozes”, reforçando a integração entre literatura, oralidade e outras expressões artísticas.

Ursula Vidal – secretária de Cultura do Estado do Pará

Além de celebrar livros, a feira cumpre papel cultural, educacional e econômico: entrada gratuita, impacto em estudantes e professores (com apoio de programas como o Credlivro), fortalecimento da cadeia produtiva, milhões em negócios e empregos temporários a cada edição. No Ponto do Autor, novos talentos dividem a mesa com nomes já consolidados, como a estreia do jornalista Paulo Garcia (“O Dragão Que Não Queria Ser Rei”) e lançamentos em família — como os Ferreira, que trouxeram livros infantojuvenis sobre meio ambiente e inclusão.

Entre os destaques editoriais de 2025 estão publicações ligadas aos homenageados, como “Mestre Damasceno e as Cantorias do Marajó”, e “Poesia Reunida”, de Wanda Monteiro, além do relançamento de “O Homem Rio”, clássico de Benedicto Monteiro em edição especial de centenário.

Quem são

Alfredo Guimarães Garcia — Nascido em Bragança (PA), 1961. Bacharel em Comunicação Social, com especialização em Teoria Literária e Gestão Cultural, e mestre em Estudos Literários pela UFPA. Desde 1985, publicou mais de 65 livros entre conto, crônica, poesia, romance e literatura infantojuvenil. Sua obra atravessa gêneros e públicos, sempre com olhar atento à cultura amazônica.

Gleice Corrêa Garcia — Paraense, professora aposentada de Língua Portuguesa e docente de Gastronomia da UEPA. Estreou na literatura com “Miguxas e Outras Crônicas” (2015, premiado pela Academia Paraense de Letras) e hoje publica pela Populivros há sete anos. Em 2025 lança “O Sabor do Afeto: Gastrocrônicas”, unindo crônicas afetivas, receitas e fotografias autorais. Sua escrita celebra a memória, o afeto e os sabores da Amazônia.

Reportagem: Equipe Diário do Norte

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